terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Dina, nome de avó.



Faria hoje 86 anos.

Ou não seria hoje, seria a 30 de Dezembro do ano velho, mas foi assim declarado pelo Pai Barbosa quando registou a sua filha Bernardina. O tempo era escasso e as multas pesadas. Nasceu uns dias antes mas não importa. Dia 15 sempre foi o dia de aniversário da minha avó, que não dava azo a confusões, nem ao dia nem ao nome, porque levava uma corrida quem a chamasse Bernardina.

Era Dina a minha avó, tal como a minha irmã, que mal conheceu.

Vivemos uma ao lado da outra menos que 12 anos, na casa que me viu nascer. A doença levou-a cedo demais, muito cedo para quem tinha tanta força de viver, tanta determinação na mente, tanta generosidade no coração e tanta teimosia no feitio.

Feitio com que o meu avô aprendeu a viver, ele e todos nós, porque era ela a mulher da casa, com tanto de autoritária como de assertiva.

Da boca dela aprendi que "Mais vale um bom mandador que um mau trabalhador!"

Num tempo em que as meninas ainda eram criadas em casa das Senhoras, por lá passaram algumas, uma delas que saudosamente recordo, a Laura, que me cobriu muitas noites e brincou comigo às casinhas, para apanhar uma meninice que o tempo cedo lhe roubou.

Tantas vezes dura e rude com as suas meninas, como se desfazendo de tudo o que tinha para que nada lhes faltasse.

-Teria sido uma boa advogada, assim tivesse estudado.- dizia
Não chegou a ver a neta a sê-lo...e ainda bem, porque a neta também não gostou. Foi herdar só a gana de viver, de virar a vida ao contrário e reinventar o destino.

Meteu-se no meio de casais desavindos, que ainda hoje estão juntos, levando na mão o estojo de aplicar injecções, porque ninguém precisava de saber ao que ela ia.

À mercearia do meu avô, vinda de uma geração de Cesários, tradicional, tranquila e muito completa, deu-lhe um novo fôlego, quando se atirou a criar frangos e vendê-los congelados para aviar às Senhoras nas compras de mês (antes da onda ASAE, naturalmente).
Quando chegaram as duas arcas frigoríficas que encomendou à socapa do meu avô, era vê-lo a correr para a casa de banho, não se aguentando do susto.

E porque o gosto por fios e panos não vem só da minha mãe, aprendi com a minha avó as voltas do crochet e os cortes da costura.

Depressa, depressa e bem, andava ela e fazia andar as meninas que aprenderam lá a costurar.

Era festiva e festeira. Não perdia um bailarico e nos cortejos ao Menino, rumava em frente ao seu rancho, que ensaiava na garagem durante duas semanas, ao som do acordeão.




Com a roupa mais bonita e bordada com pedras ricas, levava as prendas à cabeça ou no camião que abria caminho.
Descobriu aí outro negócio e lançou-se a costurar saias, blusas e aventais de peixeiras, lavradoras, padeiras e tantas outras profissões. Também para os homens não faltava a indumentária, rematados por um lindo chapéu preto e uma faixa vermelha. Às senhoras cortou-lhes o lenço em dois e cobriu duas cabeças. Duplicava o rendimento e fazia mais caras lindas.







Era danada a minha avó, a quem nunca tratei como tal. Era a madrinha, por ser madrinha do meu irmão, e por arrasto fez de nós todos afilhados, com direito a folar na Páscoa.



Era linda e sabia que sim. Tinha vaidade e gosto de se aperaltar. Guardam-se ainda as bolsas prateadas e as luvas de renda, os vestidos de baile e o casaco de veludo.



Nunca lhe chamaram bisavó, mas todos os bisnetos sabem quem ela é!




6 comentários:

Dina disse...

lindo mana...

Tereclopes disse...

Linda história a da tua avó, Isabel, e foi contada por ti com tanta sensibilidade e amor que me comoveu. Realmente não posso deixar de vir aqui todos os dias...
Muito obrigada

Mónica disse...

Descreves tão bem os teus avós que é dificil não perceber o quanto eles foram especiais.
Bjs

saloia disse...

Adorei Isabel! :)

Um força da natureza a tua Dina!

beijinho
Mary

Joana disse...

Grande homenagem a uma grande avó!

Luísa Silva disse...

Lindo post e grande homenagem a uma avó que foi, pela descrição, uma grande mulher!